Foto Vicente Andrade |
Há
algum tempo nossa cidade vem passando por um estado de tensão do ponto de vista
financeiro. Pois, uma de nossas principais fontes de renda, a mineradora, vem
passando por uma delicada crise e demitindo muitos funcionários.
O setor
de mineração de níquel, bem como outros minérios, teve seus preços afetados
pela crise internacional devido a desaceleração do crescimento da economia
chinesa, um dos principais compradores do minério brasileiro. Além disso, a China também tem investido em
novas formas de obtenção de minério e se tornou um dos maiores produtores de
níquel do mundo e com preços mais baixos.
A tensão na economia local cresceu ainda
mais, com a crise político-econômica nacional. Devido ao delicado momento na
economia brasileira, o corte de investimentos públicos em vários setores tais
como educação e saúde reduziram a arrecadação dos municípios. Soma-se a isso o aumento de impostos nos serviços
básicos e o que temos é um efeito dominó em praticamente todos os setores da
economia local.
Em meio a todo esse cenário, quem ainda
tem cacau pra vender se encontra tranquilo. O fruto, no momento esta sendo vendido
por aproximadamente R$ 160,00 a arroba. O problema é: com o declínio da
cacauicultura por causa da vassoura de bruxa, muitos fazendeiros
deixaram de investir em suas lavouras, acumularam dívidas com bancos,
transformaram suas roças de cacau em pasto ou simplesmente abandonaram suas propriedades.
Assim, muitos fazendeiros não “colherão os frutos” dessa boa fase do cacau, uma
vez que não plantaram.
Mas, apesar de todos os percalços, a
verdade é que mesmo quando os preços da arroba do cacau estão mais baixos, é
possível ter lucratividade. Ou seja, reanimar a cacauicultura na região
pode ser uma estratégia para driblar a crise atual e a longo prazo reestabelecer
a autonomia econômica da nossa região.
Mas como podemos reacender o interesse e principalmente
viabilizar, de fato, os investimentos na cacauicultura? A solução não é simples, mas é possível.
Hoje já existem muitas tecnologias de cultivo de cacau e desenvolvimento de
variedades mais resistentes que garantem o sucesso da cultura. No entanto, é
preciso que o produtor entenda sua propriedade como uma empresa e que como toda
empresa, é preciso investimento, conhecimento técnico, etc. Já não é mais
possível cultivar no presente utilizando as mesmas formas de gestão do passado.
É preciso abandonar a “cultura” de exploração.
Depois de tantos anos esperando uma
solução por parte do poder público, já deu pra perceber que esse com
certeza não será o melhor caminho. O cacauicultor precisa buscar por conta
própria soluções para sua “empresa”, como todo empresário faz. Uma mobilização
por parte dos próprios agricultores para um curso de gestão agrícola, com foco
no mercado, legislação, meio ambiente, técnicas agrícolas (cacau, apicultura,
piscicultura, entre outros), técnicas básicas de contabilidade e quem sabe de
motivação pessoal, além de outros assuntos que possam contribuir para formação
desse “novo perfil” do cacauicultor. Talvez esse seja o começo de um grande
investimento “nos negócios” e na “educação”.
E o que tudo isso tem haver com meio ambiente? Simples, o cultivo de cacau no sistema
cabruca é o principal motivo pelo qual a mata atlântica ainda é conservada no
sul da Bahia.
Jaline
Rodrigues
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