Milton José dos Santos foi um dos perseguidos políticos durante a ditadura. (fotos Vicente Andrade) |
Nessas idas e vindas da
vida, bate-papo na rua com amigos e trocas de informações, são acontecimentos
que enriquecem a cultura e a história de qualquer pessoa.
Assim sendo, quero relatar
que foi por acaso que conheci o senhor ipiauense, Milton José dos Santos. Na
ocasião ele falava da política e da real condição vivida pelo Brasil
atualmente. Por outro lado, também defendia um discurso baseado no bem social e
na esperança que dias melhores virão para o povo brasileiro.
Não desejo me alongar e ir
direto para o que importa, Milton nasceu em Ipiaú, no ano de 1929 e atualmente
está com 87 anos. A história de vida dele é uma das tantas que existem mundo
afora referente à perseguição política durante a ditadura militar no Brasil
(1964-1985).
Muitos foram presos,
torturados, condenados, mortos e ainda tem casos de pessoas que sumiram e nunca
mais apareceram. Uma triste história de sangue no Brasil.
A ditadura militar foi
instalada pelo medo da expansão comunista, uma vez que, muitos brasileiros já
eram adeptos a ideologia politica marxista.
O blog Vicente Andrade não
poderia deixar de anunciar este caso e assim abrir espaço para da voz e vez aos
que queiram falar. Depois de muito tempo, o silêncio foi quebrado.
Senhor
Milton José dos Santos e a história
Fui até a casa de seu
Milton, nesse domingo (5), pela tarde para bater um papo e colher algumas
informações sobre a experiência dele durante a ditadura militar. Os relatos
foram impressionantes. Na ocasião também estava comigo o amigo, Adenilson
Silva.
Vamos ao que interessa. Seu
Milton, durante a infância, estudou foi aluno de Losinha e tantos outros.
Seu Milton relatou que
sempre gostou de estudar, de ficar atentando nos acontecimentos e gostava muito
de ler, era dedicado aos estudos. Após concluir
o ensino em Ipiaú, seguiu para São Paulo para da continuidade a carreira acadêmica.
Milton ressaltou que “sou
grato aos professores que me ensinaram a ler e a escrever. Sou grato a minha
cidade Ipiaú, pois foi daqui que aprendi a caminhar”.
Chegando a grande capital
paulista, se alojou na casa de um dos irmãos e logo arranjou um emprego numa
farmácia. Trabalhava 12 horas por dia e não possuía tempo para estudar. Mesmo
assim, lia muito para não perder o tempo.
Após isso, serviu o exército e com o dinheiro que recebia pagava os
estudos. Seu Milton é técnico em farmácia.
Seu Milton é formado em Técnico em farmácia e apresentou o quadro que recebeu da sua única filha, Dona Nilza. |
Após um bom tempo, Milton,
juntamente com um amigo abriu uma farmácia em são Paulo, na Vila Formosa, cujo nome
era Farmácia Ipiaú, em homenagem a cidade natal.
Milton já era ligado a
politica e ficava atento às informações e conversas sobre o comunismo e a
ditadura do proletariado. De acordo com Milton, o mesmo recebeu um convite para
conhecer o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e assim, garantiu espaço e
posição no partido.
Seu Milton contou
emocionado sobre a realização de um comício, na Vila Formosa com a participação
de Marechal Herinque Lott e também com o Luís Carlos Prestes.
“Jamais nenhum partido
conseguiu realizar um comício com tata gente” pontuou Milton emocionado.
Perseguido
politico
Não foi fácil, após
adentrar no partido comunista, seu Milton, começou a ser vigiado pelos
militares e assim, consequentemente, foi
passar uns dias na colônia penal.
Os militares invadiram a
casa de Milton e o pegou a força com muitos choques elétricos e bordoadas.
Seu Milton contou
emocionado como foi preso e o que passou na prisão.
“Eu estava de férias e fui
passar uma temporada em Ipiaú. Quando regressei a São Paulo recebi um aviso que
esteva sendo vigiado e perseguindo, passados uns dois dias, os militares
invadiram a minha casa com fuzis e metralhadoras e me levaram preso. Até chegar
ao quartel, tomei vários choques elétricos e porradas” contou Milton.
Além disso, Milton também
contou que vários amigos e pessoas foram torturados e muitos chegaram a ser
condenados e até mesmo mortos, em consequência da violência que passaram
enquanto estavam presos.
Durante a prisão
Seu Milton ficou preso
durante noventa dias e interrogado várias vezes pelos militares e psicólogos.
Na prisão, junto com seu Milton,
havia professores, estudantes, intelectuais e lideres comunitários, todos
estavam sendo perseguidos e torturados.
Ainda de acordo com seu
Milton quando ele foi liberado da prisão continuava sendo vigiado pelas forças
militares.
Milton contou uma história lastimável
que ocorrera com ele na Farmácia Ipiaú.
“Certa vez depois que fui
solto, um militar que eu desconhecia chegou até a minha farmácia e pediu pra que
eu fizesse um curativo e quando eu estava fazendo o trabalho, o militar
comemorou na minha frente que o Carlos Lamarca tinha sido morto” contou Milton complementando
que o militar dava risada gritando bem alto que um bandido tinha sido morto.
Seu Milton ainda completou
que “eu sabia que o militar estava fazendo aquilo para ver qual seria minha reação.
Mas fiquei calado e não disse nada”.
Também seu Milton ressaltou
que todos do partido comunista, da Vila Formosa, foram perseguidos e a base que
tinha sido formada foi extinta por imposição da ditadura militar.
Quando fala em ditadura
militar, os olhos de seu Milton enchem de lágrima se emocionando ao lembrar-se
do fato.
“O negocio não era
brincadeira, eu sou uma testemunha viva do sofrimento que o nosso povo passou. Infelizmente
à ditadura queria eliminar fisicamente os intelectuais. Eu não gosto nem de
falar da ditadura que fico emocionado” lembrou Milton.
O
desejo ainda segue firme
Para seu Milton “o Partido
Comunista Brasileiro tinha no seu programa a Libertação do povo brasileiro das
garras imperialistas e capitalistas selvagens, éramos um movimento
revolucionário”.
Em conversa com Milton ele
garante que a ditadura militar atrasou o Brasil e a realidade que vivemos hoje
é por conta das mazelas causadas pelo poder militar.
Não obstante, seu Milton ainda
acredita em dias melhores para o povo e acredita na implantação da igualdade
social no Brasil e assim sendo, seu Milton finalizou ressaltando o que precisa
acontecer daqui para frente.
“Eu espero que tenha uma
formação, o nosso país precisa de pessoas conscientes, patriotas para nos
unirmos e criar uma frente independente e revolucionária. Apenas as eleições
não resolvem e é necessária uma luta revolucionária para consertar o país, pois
conhecendo o passado, vendo a realidade, podemos prever o futuro” finalizou seu
Milton.
A ditadura militar no
Brasil foi uma das grandes manchas de sangue que ocorreram em nosso país, foi
um suborno dos direitos de liberdade ao nosso povo. Uma crueldade jamais vista
e uma estrondosa falta de caráter e humanidade para com os Brasileiros. Essa
condição não pode ficar impune.
Aos 87 anos seu Milton é ativo e lucido. Preparando um café para beber no fim de tarde.... |
A entrevista completa com seu Milton, você
acompanhar no programa Bote Fé! Você é a Sua Salvação! Um programa Jornalístico
a Favor da Cidadania, nesta Quinta-feira (9), às 21 horas, pela rádio Livre de
Ipiaú, 105,9.
Vicente
Andrade
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