Por Osires Rezende
(Dedicado aos amigos Dilson Araújo e Dorcas Guimarães)
Que o idealismo de Juscelino Kubitschek
a tenha concebido como uma instituição científica, imprescindível para o
desenvolvimento da nossa região, só a insensatez pode por em dúvida, mas a
CEPLAC deu azar, não teve tempo de consolidar a sua identidade com um
corpo técnico soberano e foi atropelada pelo regime de exceção de 1964. Ciência
submetida à ideologia não pode dar certo.
Visitei uma fazenda em Banco Central
onde velhos trabalhadores me mostraram diversos "pés de cacau"
argolados, identificados com plaquetas do Instituto Agronômico,
comprovando assim as informações de Geraldão, como respeitosamente nós
estudantes denominávamos saudoso mestre da Escola de Agronomia da UFBA em Cruz
das Almas, que em ontológica aula nos demonstrou como a natureza
foi pródiga com a nossa região, nos doando um clima e terrenos
propícios ao cultivo do cacaueiro sem os seus inimigos naturais da
Amazônia, nos advertiu da nossa responsabilidade de agrônomos para com as
futuras gerações e nos informou que as pesquisas agronômicas na nossa região se
iniciaram na década de 1930 com técnicos do Instituto Agronômico criado no
governo de Getúlio Vargas. E aí ele se permitiu a uma cautelosa,
mas bem fundamentada e devastadora crítica à certas boçalidades da
CEPLAC, que inicialmente teria dado prosseguimento as pesquisas do
Instituto Agronômico, mas ao submeter-se aos áulicos do regime tinha abandonado
tais pesquisas e submergido no ufanismo primário. É a boçalidade dos
despeitados em estado puro, nunca ciência.
Colegas estudantes de Ilhéus, Itabuna,
Buerarema, só faltaram crucificar o professor e quando timidamente
ponderei a favor do mestre eles me esnobaram como se eu fosse um traidor da
região, então estive algumas vezes no gabinete do mestre e foram conversas
prazerosas que não absorvi integralmente, mas ainda agora me recordo do seu
riso cordato; "politicagem é fácil, política para o bem comum é difícil, e
ciência é para os honestos que têm compromissos com a verdade, com a
humanidade”.
A bem da verdade e para sermos justos
há que se ressaltar que não se pode debitar aos militares o titulo de
maior inimigo da CEPLAC e da nossa região, tal gloria cabe ao chamado czar da
economia de então, o senhor Antônio Delfim Neto, que empolgou todo o poder e
inventou a megalomania de sermos o maior produtor mundial,
usurpando recursos da região para financiar plantios de cacau no Pará, no Acre,
em Rondônia e até no todo poderoso São Paulo, uma insanidade que a incipiente
consciência civilizada da região e a CEPLAC não tiveram a lucidez e forças para
denunciar e resistir.
Com a constituinte perdeu-se uma boa
chance de libertar a CEPLAC da politicagem.
Desgraçadamente com a democracia vivenciamos
a tragédia, já anunciada, (com o deslocamento de material genético sem
barreiras fitossanitárias adequadas, decididamente a CEPLAC falharia
nesta implícita missão de proteger a nossa região) e fomos premiados com a
introdução da vassoura de bruxa. Mas esta tragédia supera a surrealismo
politiqueiro da leviandade irresponsável e resvala para a infâmia quando
Dilson Araújo e Dorcas Guimarães, destemidamente, disponibilizam um
documentário com denuncias candentes de que esta contaminação não foi por
mero acaso, mas sim um crime perpetrado por agentes ligados à CEPLAC. Não se
trata de ressentimentos, revanchismo ou mera disputa politiqueira, a ética, a
civilidade, a cidadania e principalmente a Ciência exigem esclarecimentos. É um
crime inominável e imprescritível. É reconfortante e altamente significativo
que Dilson Araújo e Dorcas Guimarães tenham se posicionado ao lado da, por
assim dizer, histórica resistência democrática ipiauense. É
inaceitável e absolutamente incompreensível à omissão da CEPLAC diante destas
denuncias, "Quem cala consente."
Talvez agora, mais que há 60 anos,
a nossa região necessite de uma
Instituição Científica, motivada, para enfrentar os desafios, mas ao completar
sessenta anos, se não exigir o esclarecimento deste crime, a
CEPLAC estará traindo a Ciência e a nossa região e não terá nada o
que comemorar, é até nefasta para a nossa auto estima, como conviver com quem
nos traiu? Não é esta a Instituição Científica que precisamos. Será que
nos seus quadros não tem sequer um doutor que tenha estudado
com mestres da estatura do doutor Geraldo?
Enquanto não solucionarem, esclarecerem
este crime, com a maior transparência,
observando a legalidade constitucional, Vicente Andrade tem a minha
autorização para republicar, adequando a data, este meu grapiúnico desabafo em
qualquer comemoração da CEPLAC, por agora só nos resta recorrer ao nosso maior
poeta, Jorge Amado, porque só rindo, ridicularizando os boçais, se supera o
mal da omissão.
Com esta omissão, aos sessenta anos, a
CEPLAC não conseguiu produzir um conhecimento, a credibilidade que justificasse
a reconhecermos, pelo menos, como uma respeitável Tereza Batista Cansada de
Guerra, chafurda na luxuria da falsa ciência, se acomodou e se
compraz a desempenhar o indigno papel de impudica rameira de luxo, vulgar,
devassa, pervertida que se submetem as depravações vaidosas, lubricas dos
complexados, medíocres, boçais, chibungos sub-rogados,
apaniguados, subservientes baba-ovos dos poderosos traidores de plantão.
Com sua licença, Capitão Natário da
Fonseca, um beijo em dona Jacinta Coroca do xibiu apertado.
Até mais ver.
0 Comentários