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Foto Rogério Ferrari |
Na idade média, a igreja católica fez
não sei quantos concílios para se discutir os mais importantes temas, se a
natureza do Cristo permitia que ele risse e, portanto, se rir era ou não um
pecado, o sexo dos anjos, se eram machos ou fêmeas ou unos em suas purezas de
fogos, qual a quantidade de anjos se equilibravam na cabeça de um alfinete, se
apenas um ou infinitos, enfim, temas importantes para a salvação da humanidade.
Na Ipiaú da minha meninice, se realizou
o famoso Concilio do Areião dos Dez Quartos. Não dizia respeito à salvação da
humanidade como um todo, mas foi de transcendental importância para a
pacificação das nossas consciências juvenis. Não teve roupas púrpuras, báculos,
nem pompas nem mordomias, mas todos de calções, nus da cintura pra cima, sob o
sol inclemente e descalços sobre aquelas úmidas areias, infestadas de
protozoários. Antes de se escolher os times para o baba diário, abriu-se uma
roda para se decidir a partir de quantas punhetas o sacana estava ofendendo a
Deus e caindo na tentação do Diabo.
Como soe acontecer em Concílios e
Congressos em geral, no início, as posições se extremaram. Radicais
progressistas defendiam que punheta não era pecado e o cada um estava liberado
para bater quantas punhetas lhe aprouvesse. Os retrógrados conservadores se
escandalizaram e decretaram que o simples fato de pensar em bater uma punheta
já era uma grave ofensa a Deus. Perdeu-se algum tempo debatendo-se a natureza
pecadora da punheta, até que Peu, irmão de Xexéu, gaguejando, esclareceu a
coisa.
“Que é pecado é. Eu só não me conformo
é que o padre receitou pra mim uma dúzia de Padre Nossos e Ave Marias e pra
Xexéu somente meia dúzia.
Todos se escandalizaram, menos Xexéu, é
claro. Aí se iniciaram os debates a respeito de a partir de quantas punhetas o
cara estava incorrendo em venial ou mortal ofensa. Os conservadores fizeram as
concessões de praxe e começou a se cristalizar um consenso de que meia dúzia de
punhetas diárias era uma quantidade razoável para o cara se aliviar. Os
progressistas, sempre contraditórios, participavam do debate, mas não faziam
concessões e se aferravam à tese de que punheta não era pecado e devia ser
liberada. Coube ao grande Xexéu dirimir as dúvidas, o que fez, não sei se com
parcimônia ou sabedoria, mas com a firmeza que lhe era peculiar, nos seguintes
termos.
“É o seguinte: até vinte punhetas por
dia é normal, Deus não se zanga não. Mais do que vinte já é sacanagem. Aí só
com ajuda do Diabo mesmo e Deus vai ficar retado da vida.”
Para felicidade geral, mas sob, talvez,
invejosos protestos dos conservadores, tiraram-se os times e se iniciou o baba.
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