Por Osires Rezende
É louvável e expresso publicamente o
meu débil apoio à iniciativa de reativar ou transformar em espaço cultural a
área com a fachada tombada do cine Éden. Mas é o diabo! A dinâmica modernizante
engendra mudanças que exigem uma espécie de esforço coletivo para entendê-las.
Decididamente ainda estamos num estágio de aperfeiçoamento, não somos donos dos
nossos destinos, irracionais forças ainda nos norteiam e soluções altruístas,
que parecem obvias, de repente descambam para a mediocridade que nos consome.
Um desses momentos em que a melhor
solução de repente se desmanchou no ar foi quando sob a, digamos, orientação do
Dr. Euclides Neto, Dílson Araújo, secretário de cultura, a professora Lícia
Andrade Ramos, secretaria de educação galvanizaram apoios para “pressionar” o
prefeito de então na busca desta solução, não estou bem inteirado porque
cuidava dos meus afazeres, mas sei que alguns radicais preconizaram até uma
desapropriação que o próprio Dr. Euclides não achou viável, o seu pragmatismo
optou pelo tombamento da fachada, que agora se revela como a melhor solução.
O entusiasmo de Dr. Euclides não
arrefeceu e se viabilizou o Museu do Lavrador, e aqui comporta uma breve reflexão
sobre esta tal mediocridade que nos consome. A birra, a má vontade de
posteriores administrações não deu seguimento ao Museu do Lavrador, e eu fico
pensando, se o poder municipal tivesse realmente encampado o prédio do cine
Éden para instalar uma Casa da Cultura, um Museu, sem a lei do tombamento da
sua fachada, será que ela já não teria sido derrubada para a construção de
algum feérico edifício modernista? Não é de duvidar, pois constatamos que até
um ministro da educação e cultura de um governo supostamente progressista, o
senhor Aloisio Mercadante, se dá ao desplante de perguntar; “Para que serve um
Museu?”
Compreender a atual decadência cultural
exige uma contextualização, não me arvoro a deter a verdade. Não sei se
vivenciei o apogeu do Cine Éden, parece que isso ocorreu lá pela década de 1950
quando se “exigia” traje a rigor para frequenta-lo, mas percebi o começo da sua
decadência que se deve ao que se convencionou chamar de modernização
conservadora dos militares com a consolidação da televisão, no contexto da
chamada Guerra Fria, revolução cubana, guerrilhas, descolonização da África,
urbanização e industrialização tardia no Brasil, redemocratização na América
Latina, queda do muro de Berlim, etc. etc. Então antes da TV o cine Éden se
auto sustentava, não sei como agora a sociedade pode criar uma alternativa
econômica viável, eu sei da importância da cultura, mas sei também que o Estado
não equacionou problemas da saúde, segurança, educação e outras
premências.
Participei da história
do cine Éden
como frequentador e como
ator quando com vários amigos adaptamos e encenamos o romance
Os Magros do Dr. Euclides Neto , um dos poucos momentos
em que
ele funcionou como
Cine Teatro
Éden , por
isso gostaria de vê-lo reativado como um espaço da Liberdade ,
da Criatividade e da Verdade .
O esforço coletivo
para promover esta mudança exige maturidade ,
desprendimento e independência crítica. Vivenciamos no nosso
país e na nossa
cidade uma realidade
política verdadeiramente trágica , na nossa
cidade não
conseguimos forjar uma alternativa
a forasteiros que evidentemente não terão nenhum compromisso com nossas
tradições culturais, no nosso país
querem nos fazer
reféns de um
maniqueísmo absolutamente estéril , e o engraçado é que os que se
arvoram a defensores da correção política
não se dignam a prestar
satisfações a sociedade
quando o mentor e maior beneficiário desta infame dicotomia
é acusado de alcagueta dedo-duro
colaborador de órgãos policiais da ditadura .
É preciso ficar bem claro que os que
não exigem explicações dos mistificadores que apoiam alcaguetes dedo-duros não
têm nenhum compromisso com uma ético-estética popular libertaria. E urge se
criar algo que não descambe para a mediocridade e envergonhe o Cine Teatro Éden
que ajudou a forjar nossas mais saudáveis emoções.
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