
Com o objetivo de diagnosticar
alguns aspectos relacionados à higiene da cadeia alimentar da carne da região e
contribuir com a conscientização da população sobre a importância da qualidade
da carne, sob o aspecto sanitário, para o bom desenvolvimento da saúde pública
e ambiental. A ideia deste artigo surgiu após
algumas pessoas da cidade de Ipiaú questionarem o fechamento do matadouro do
município de Ipiaú .
De acordo com o laudo técnico sobre o matadouro elaborado pela Agência de Defesa Agropecuária (ADAB), o estabelecimento não cumpria as exigências técnica, higiênica e sanitária de funcionamento. E por isso, em agosto de 2016 foi interditado.
De acordo com o laudo técnico sobre o matadouro elaborado pela Agência de Defesa Agropecuária (ADAB), o estabelecimento não cumpria as exigências técnica, higiênica e sanitária de funcionamento. E por isso, em agosto de 2016 foi interditado.

Conversando com intermediários e
açougueiros de Ipiaú o fechamento do matadouro gerou desemprego e também o aumento da carne
para os açougueiros.
Intermediários da carne de Ipiaú ( José Eduardo e Ailton Eça) |
Ailton Eça falou que o “matadouro
de Ipiaú era um chiqueiro, não tinha inspeção, até boi morto já levaram para
lá. E mesmo com o custo mais elevado estamos
abatendo em Jequié”.
Para abater o animal em Jequié é
necessário retirar a guia de trânsito emitido pela ADAB. De acordo com Ailton a média de abates
bovinos é de duzentas e cinquenta cabeças por mês em Ipiaú. Ao chegar a Jequié
para o abate, o animal passa por diversas inspeções antes e após abate.
Carne contaminada
Sem inspeção sanitária correta é
impossível detectar as carnes contaminadas. Outro intermediário da carne de
Ipiaú, José Eduardo Mendes, frisou que já teve cabeça de gado com a carne
infectada pela tuberculose.
“ Olha, aqui em Ipiaú não tinha
inspeção sanitária nenhuma e aqui nunca rejeitou um gado. E quando fomos para Jequié,
vários bovinos foram rejeitados com a carne contaminada de tuberculose e
verminose. Então, em Jequié está melhor por isso, lá tem inspeção” explicou
José.
O matadouro de Ipiaú foi
inaugurado em 1992, na gestão de Miguel Coutinho. Desde o inicio o
estabelecimento passava por problemas de higiene, principalmente ambiental, era
despejado no Rio de Contas todos os dejetos do matadouro, sem nenhum
tratamento.
Desemprego e reclamações dos açougueiros
O fechamento do abatedouro de
Ipiaú também gerou problemas econômicos para açougueiros e famílias.
De acordo com o açougueiro
Reinaldo Lopes mais de cem pais de família perderam os postos de trabalho e,
além disso, gerou um custo muito alto para os açougueiros e comerciantes devido a
elevação do preço para abater o animal.
Açougueiros de Ipiaú |
Já Luciana Cairo externou que só quem está ganhando com o abate em
Jequié são os intermediários da carne e que está torcendo que o matadouro de Ipiaú
seja reativado o mais rápido possível.
Jackson Almeida também relatou que
a abertura do matadouro de Ipiaú é fundamental para a economia, mas por outro
lado é necessário ter uma qualidade de inspeção e segurança igual ao abatedouro
de Jequié.
Abatedouros da região e a ausência de inspeção sanitária
Uma imagem vale mais que mil
palavras, já dizia o velho ditado. Levantando um diagnostico regional dos
abatedouros é notório o desequilíbrio ambiental e a ausência de inspeção
sanitária para o abate de animais.
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Matadouro de Itagibá: Animais são abatidos e desossados no chão |
Uma realidade que se encaixa numa
questão de saúde pública e consciência. As fotos por si só já revelam a situação de desequilíbrio.
Os abatedouros da região passam
por sérios problemas como o de Itagibá, Dário Meira, Aiquara e Ibirataia. A
ausência de inspeção sanitária tem trazidos elementos que vão de encontro com
as exigências sanitárias asseguradas pela Lei Estadual 12.215/2011 e pelaportaria 304.
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ossos de animais descartados sem inspeção sanitária (Itajibá) |
Assim como o matadouro de Ipiaú,
outros da região também precisam de uma readequação para resolver os problemas
da higienização das carnes. Na cidade de Dario Meira consegui conversar com Secretário
de agricultura e meio ambiente, Edvaldo de Jesus (Val da Garoa). Edvaldo
reconheceu o problema e mencionou que já havia pedido ajuda ao governo do
Estado.
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Secretário de Agricultura e Meio Ambiente, Edvaldo de Jesus (Val da Garoa). Edvaldo reconheceu o problema e mencionou que já havia pedido ajuda ao governo do Estado. |
“Fechar o matadouro daqui vai
gerar desemprego e será muito ruim pra nossa cidade. Nós temos conhecimento dos
problemas e é caótico o estado. Já temos o projeto para a melhoria, mas não
temos recursos o suficiente. Também já pedimos ao governo do Estado a
requalificação do nosso matadouro e nos deram o prazo de sessenta dias para
responder algo. O fechamento será horrível. Pedimos ao governo para nos olhar e
fazer um matadouro de qualidade e que cumpra com as leis de vigilância sanitária
” concluiu Edvaldo
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Fezes e urina dos bovinos abatidos são jogados no rio sem nenhum tratamento (Dário Meira) |
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Local de abate de Dário Meira |
Os bovinos, para serem abatidos nos
abatedouros com inspeções Estadual ou Federal, necessitam de uma guia de trânsito
liberada pela ADAB. Este é o inicio correto e seguro para o abate.
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Local de Abate em Aiquara |
Os matadouros sem inspeção são
considerados clandestinos, ainda mais, quando o rebanho não é cadastrado no
sistema da ADAB. Este fato pode está gerando problemas de saúde para as pessoas
que comerem a carne sem a devida inspeção sanitária.
Além de causar doenças a ausência
de estrutura dos abatedouros da região também agride o meio ambiente, uma vez
que, os dejetos são despejados, sem tratamento adequado, nos rios. Fezes,
sangue, urina de animais vão descendo pelas águas abaixo.
Pelo registro das fotos é
perceptível o desequilíbrio ambiental. Existe uma serie de demandas para atender
as exigências legais e para construir um abatedouro nas cidades, seria um custo
muito alto e inviável.
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Abatedouro de Ibirataia |
O Vereador Charles Mosquito de Ibirataia se prontificou a cobrar e buscar soluções para sanar os problemas de higienização das carnes do município.
Uma possível via de saída é construir um
abatedouro, dentro da legalidade, e que tenha uma estrutura que atenda às cidades do entorno de Ipiaú e região. Para isso, a união entre os municípios é
de suma importância para abrir caminhos das tomadas de decisões eficientes e
duradouras para o bem das comunidades.
O espaço está aberto para os poderes públicos e para a comunidade externar o que pensam. Este artigo é um trabalho
independente que contou com o apoio da gerência técnica da Agência de Defesa
Agropecuária (ADAB) de Ipiaú.
Programa Bote Fé
Durante o programa radiofônico
Bote Fé! Jornalismo a favor da cidadania, dessa última quinta-feira (20), foi
abordado o tema sobre a cadeia alimentar da carne e higienização da produção de
alimentos.
Para falar sobre o assunto, convidei Alexsandro
Maia Cardoso, técnico de fiscalização agropecuária e zootecnista da ADAB de
Ipiaú. O programa também apresentou as opiniões dos intermediários da carne e
açougueiros
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