Por Elis Matos
Elis
Matos é ipiauense, feminista, licenciada em Filosofia (UESC), bacharela em
Comunicação Social (UESC), pós-graduanda em Gestão Cultural (UESC), no qual
estuda os grupos culturais feministas do sul baiano, e mestranda em Linguagens
e Representações (UESC), no qual centraliza sua pesquisa em Estudos de Gênero.
É noite. E
eu estou completando meu dia. Ponho uma malha e vou treinar. É bom. Tonifica -
o corpo. Relaxa - a mente. O problema é o transtorno de ir e voltar da
academia. Não pela distância, são apenas três quadras. Três quadras DE PURO
DESRESPEITO ao MEU corpo.
“Ê delícia”,
sempre acompanhado de [imagine aqui sons saindo da boca de machos excitados]. E
olha que não sou nenhum sexy symbol (E mesmo que fosse, né? Ninguém tem que
passar por situações constrangedoras deste tipo). Faço todo o percurso a pé, tendo
que desviar de palavras e olhares desconcertantes e desnecessários e...
insultantes. Eu poderia ficar aqui por horas adjetivando o que não deveria ser
substantivo nas nossas práticas diárias, mas vou sintetizar numa palavra só:
nojentos.
Usei esta
palavra ontem. Eu estava bem cansada, não do treino - volto sempre energizada.
Estava cansada de todos os dias ter que passar por isto. Hoje, não! (pensei). E
soltei um sonoro “nojento” bem na cara daquele rapaz que, em outros contextos,
deveria ser aprazível, mas que ali, naquela avenida, estava desrespeitando um
corpo - um corpo feminino. Sei que foi bem pontual, não resolverá de maneira
ampla o meu problema. Também sei que foi um ato bastante imprudente. Vai que,
no meio da rua, ele me agredisse? Não estou aqui aconselhando ninguém a fazer
igual. Inclusive, NÃO FAÇAM. É perigoso. E não resolve o nosso problema, de
maneira mais ampla.
Tenho plena
convicção de que nada do que disse aqui é novidade. Sei que vocês passam por
isto ou coisa bem mais traumática. Transporte público é o pior lugar para ser
mulher, eu sei. (Quando escrevi este texto, ainda não tinha rolado o episódio
do ônibus em São Paulo. Agora estou aqui revisando e tive que incluir este
parêntesis - para vocês verem como é a vida...) É difícil. Fico a me perguntar quando
os homens entenderão que o MEU corpo não deve ser desrespeitado e abusado? Que
ele é meu e, enquanto mulher, eu tenho o direito de andar pelas ruas de maneira
segura e sem passar por constrangimentos.
Sei que o
problema é estrutural, sei que demorará muito para realmente sermos respeitadas
e para que nossos corpos não sejam sexualizados, mesmo estando cobertos, em um
dia frio, indo malhar. Ou mesmo, estando desnudos, num dia de calor. Enfim, em
toda e qualquer situação. Tava até pensando em mandar imprimir numa camiseta
alguma frase de impacto em defesa de algo que me pertence: MEU CORPO. Seria
mais efetivo? Quem sabe, né? Vamos juntas!
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