Bianca Meira relata abusos sofrido por militares de Ilhéus |
Acredito que todos nós não
concordamos com o abuso de autoridade ou qualquer forma de violência física ou
psicológica.
Infelizmente, as atitudes de
alguns membros da Corporação da Polícia Militar mancham a imagem de muitos
trabalhadores honestos, que também se dedicam para desenvolver um trabalho
ético e que realmente defenda a comunidade dos perigos que a sociedade
representa para todos nós.
O caso da ipiaeunse Bianca
Meira chocou muita gente com os abusos cometidos por alguns policiais militares
na cidade de Ilhéus, no início deste mês de setembro.
Bianca é uma jovem estudante,
que está cursando o último semestre do curso de Bacharelado
em Línguas Estrangeiras Aplicadas às Negociações Internacionais (LEA)
pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) em Ilhéus.
O caso de Bianca repercutiu nos
jornais, blogs, rede de televisão e rádio da Bahia, chegando a centenas de
visualizações e compartilhamentos do caso na internet.
Além disso, é válido ressaltar
que Bianca Meira é filha de Ipiaú e tem no sangue a marca de pessoas que
contribuíram e contribuem no dia-a-dia com diversas centenas de jovens,
ensinado, passando o conhecimento e formando muita gente para o mundo.
![]() |
Exame de lesões corporais |
Eu soube do caso de Bianca por
uma amiga, que contou a história e leu a carta que foi publicada pela vítima
nas redes sociais. Achei estrondoso o caso, que representa uma covardia perante
uma cidadã de respeito, que deveria ter garantidos os seus direitos e
integridade física. No mesmo dia que soube do caso, outro fato me surpreendeu:
Bianca é também uma conterrânea, filha de Ipiaú.
Pensando em contribuir com a
justiça, entrei em contato com Bianca e abri espaço aqui no blog para que ela
pudesse relatar o acontecido, com a intenção de que os culpados sejam julgados
e condenados pelo ato de covardia.
Neste vídeo Bianca relata como
tudo aconteceu:
carta da estudante:
Ilhéus, BA, 10/09/2017.
No
dia 08/08/2017 eu, Bianca Meira Santos, Estudante do curso de LEA-NI da UESC,
vim de mudança da cidade de Itabuna para Ilhéus, para dividir o aluguel de uma
casa com uma mulher chamada Tássita Cyriaco Bittencourt, estudante da Faculdade
de Ilhéus. O valor do aluguel da casa era R$400,00 (conforme estava no anúncio
que ela pusera na internet) caso eu alugasse sozinha a casa que tem dois
quartos, e era a minha intenção porém a Tássita me propôs ao invés de alugar a
casa sozinha, que eu dividisse com ela a casa (que pertence a mãe dela) porque
ela havia acabado de começar o curso de odontologia na faculdade de ilhéus e
precisaria também morar em ilhéus agora, então eu concordei, paguei 200,00
reais à mãe dela referente minha parte do aluguel e vim de mudança pra cá com
todos os meus móveis, eletrodomésticos, animais de estimação (tenho dois gatos)
e objetos pessoais. No dia 28/08/2017 Tássita me chamou para conversar e disse
que a mãe dela, Silvia Cyriaco Bittencourt, que é a proprietária da casa em que
estávamos morando, e até então morava na cidade de Itamaraju, havia recebido
uma proposta de trabalho aqui em Ilhéus e que por isso estava vindo embora pra
cá e que precisaria do quarto que eu estava ocupando para a mesma. A minha
resposta a ela foi de que eu havia acabado de me mudar pra Ilhéus, que tinha
tido muitos gastos com a mudança e que por isso não teria condições de
simplesmente me mudar novamente assim sem mais nem menos. Não havia nem
completado um mês que eu estava morando na casa quando ela veio me dizer isso.
Ela não gostou da minha recusa em sair imediatamente da casa e começou a dizer
que eu teria que ir embora porque eu ficava recebendo homens estranhos (3
colegas da faculdade que passaram por lá) na casa e fazendo festas (eu não fiz
nenhuma festa se quer naquela casa) e que ela estava se sentindo ameaçada
dentro de casa. Mais uma vez eu recusei-me a sair porque disse a ela que isso
era contra a lei e que eu tinha direitos, e que as pessoas que iam na minha
casa eram colegas da faculdade e que ninguém nunca tinha nem falado nada com
ela pra ela agir daquela forma, e que eu nunca tinha feito nenhuma festa dentro
de casa e que eu não ficaria mais ouvindo aqueles absurdo e fui pro meu quarto.
Minha primeira atitude foi entrar em contato com meu advogado João Lins e pedir
orientação sobre como eu deveria me portar na situação e quais eram meus
direitos, já que ela estava ameaçando me colocar pra fora porque nosso acordo
não tinha sido físico e sim verbal e que por isso eu não teria direito a nada
porque não tinha como provar que aluguei. Logo após isso entrei no facebook e
mandei mensagens pra o perfil da mãe dela contando sobre a discussão e dizendo
as coisas que João havia me instruído sobre meus direitos na situação e pedindo
que ela intercedesse junto a filha dela por minha causa, porém eu nunca fui
respondida (tenho todos os prints dessa conversa arquivados para servir de
prova). No dia 2/09/2017 eu viajei com o ônibus da faculdade (sou estudante da
UESC) e mais 20 colegas para João Pessoa na Paraíba para um congresso de
estudantes e só retornei no dia 08/09/2017 no final da tarde. Ainda lá na
paraíba tentei contato com Tássita pra saber o que ela e a mãe dela tinham
decidido a respeito da minha situação. Se elas preferiam me pagar a multa pela
quebra do contrato ou se elas me dariam os 30 dias de aviso prévio pra eu me
preparar pra mudança e mais uma vez fui totalmente ignorada. Ao retornar mandei
mensagem pra ela novamente dizendo que havia chegado em ilhéus e que precisava
entrar em casa e eu tinha sido informada por um colega (que eu tinha deixado na
incumbência de alimentar meus gatos enquanto eu estivesse fora) que elas haviam
trocado o cadeado da casa e que por isso eu não poderia entrar sem elas em
casa. Quando finalmente consegui chegar em casa eu estava acompanhado de um
colega da faculdade (que não vou citar o nome pois ele não precisa ser
exposto), que mora em Itabuna e que havia me pedido abrigo em Ilhéus naquele
dia pois ficara tarde pra ele voltar pra Itabuna e eu disse que tudo bem. Cheguei
em casa por volta das 22 horas e ao chegar fui recebida pela Tássita, pela mãe
dela, Silvia e por uma vizinha que eu não sei o nome pois não a conhecia
direito, juntas na sala esperando pra me confrontar. Pedi ao meu colega que
fosse pro meu quarto e fui pra sala conversar com elas. A conversa foi de mal a
pior, a dona Silvia me disse que eu teria até segunda pra sair da casa dela, eu
disse que já tinha sido informada dos meus direitos e que só sairiam quando
elas decidissem me pagar ou me dar os 30 dias de aviso prévio e caso contrário
eu não sairia porque nesse país existem leis. Ela começou a gritar comigo e
disse que elas não se importavam se eu tinha advogado porque elas também tinham
quem as defendesse e que se eu não saísse por bem sairia por mal. Aí eu disse
que elas estavam tentando me dar um golpe mas que eu não era fácil de ser
enrolada assim não, saí da sala e fui pro meu quarto tranquei a porta e fui
tomar banho. Antes que eu pudesse terminar o banho ouvi um estrondo enorme na
porta do meu quarto e meu colega foi abrir a porta pra ver do que se tratava
pois ele pensou que fosse novamente a dona Silvia querendo falar comigo, porém
quando ele abriu tinha 5 policiais fortemente armados na porta do meu quarto.
Daí pra frente foi uma sucessão de agressões e abusos por parte da polícia.
Quando eles entraram no meu quarto eu ainda estava no banheiro do quarto,
completamente nua. Meu colega calmamente pediu que os policiais saíssem do
quarto para que eu pudesse me vestir com o mínimo de dignidade, porém ele foi
arrancado do quarto debaixo de porrada. Eu me enrolei numa toalha e fui
perguntar o que estava acontecendo ao sub tenente Agnaldo Nascimento dos
Santos, que era quem estava comandando a operação porém ao invés de me
responder ele me agarrou pelo pescoço e me deu tapas muito pesados no rosto, me
chamou de vagabunda entre outras ofensas. Eu pedi que se retirassem do meu
quarto para que eu pudesse ao menos estar vestida antes de apanhar mais, e ele
disse que eu teria um minuto pra me vestir e começou a gritar perguntando onde
eu escondia minhas drogas. Respondi que eu não tinha droga nenhuma, e que eles
poderiam revistar meu quarto procurando que não achariam nada. E de fato eles
não encontraram nada de drogas no meu quarto nem nas minhas coisas. Encontraram
uma pequena quantidade de maconha na mochila do meu colega porém ele assumiu a
droga ser dele e que eu não tinha nada a ver com aquilo. Depois de conseguir me
vestir eles me algemaram, mesmo eu não tendo resistido em momento algum, e me
jogaram no camburão do carro da PM após mais algumas agressões. Voltaram para
dentro da casa, vasculharam todas as minhas coisas tentando procurar drogas, e
como não encontraram nada eles mandaram a Tássita e a Silvia pegarem todas as
minhas coisas e colocarem na garagem dizendo que eu já ia sair dali de mudança
naquele mesmo dia. Depois disso o policiais saíram dizendo para os vizinhos que
começavam a se aglomerar nas portas de suas casas, que eu era uma bandidinha
traficante da UESC que eu estava fazendo festas regadas a sexo e drogas dentro
da casa e que estava tentando colocar a dona da casa pra fora da própria casa.
Eu ouvi tudo isso enquanto estava algemada e presa dentro do camburão. Depois
disso eles algemaram também o meu colega, o puseram também no camburão e nos
levaram para a delegacia. Antes de sairmos de lá eu vi Wilza, que é uma colega
do mesmo curso que eu na UESC, parada na porta da casa assistindo a tudo. Achei
que ela estava lá porque ela é irmã da Tássita e que tinha ido porque ela tinha
chamado, porém depois eu descobri que além de ser irmã da menina, o marido de
Wilza é policial militar eu só não sabia se era algum dos policiais envolvidos
naquilo tudo pois eu não sabia o nome do marido dela. Chegando na porta da
delegacia eles nos obrigaram a ficar parados no fundo do carro da PM e posar
pra fotos nos celulares deles e disseram que no dia seguinte já estaria em
todos os blogs da região, além de que eles iam mandar pra todos os amigos
policiais deles pra a gente nunca mais ter paz na cidade. Me recusei a olhar
pra câmera e mais uma vez fui hostilizada pelos policiais, e após eles
conseguirem a foto eles nos levaram pra dentro da delegacia. Meia hora depois
Tássita, Silvia, Wilza, e a vizinha da qual eu não me recordo o nome, chegaram
na delegacia e começaram a inventar várias histórias a meu respeito. Disseram
que tinham me abrigado na casa delas porque eu estava precisando e um lugar
para morar e que eu agora estava tentando colocar a dona pra fora de casa.
Disseram que os 200 reais que paguei a mãe dela eram referentes as contas de
luz e gás, o que era mais uma mentira porque foi na verdade o valor da minha
parte do aluguel. Depois que elas foram ouvidas elas foram embora e eu fiquei
esperando até as 2 horas da manhã pra ser ouvida pelo delegado antes de ser
liberada. Fiquei proibida de voltar à casa, a não ser pra buscar os meus móveis
e meus gatos. O delegado me garantiu que instruiria elas a não mexerem nas
minhas coisas até eu poder ir buscar e a cuidar dos meus gatinhos para que não
morressem de fome até eu poder busca-los. Saímos da delegacia já eram quase 3
da manhã, e fui pedir abrigo na casa de um amigo.
Eu consegui o nome completo de três dos cinco policiais envolvidos na situação
e por isso eu descobri que o policial que mais me agrediu e me humilhou é o
Sub. Tenente Agnaldo Nascimento dos Santos que é justamente O MARIDO DE WILZA,
QUE É IRMÃ DE TÁSSITA. E que um dos outros oficiais estuda na mesma faculdade
que Tássita também, o que me explicou como tudo pode ter acontecido tão rápido,
porque ficou claro que eles já estavam de sobreaviso esperando apenas o chamado
delas pra irem me agredir. Os outros dois nomes que consegui foram o do Sgt.
Antonio Humberto Pires e o do SD.PM Leonardo Antonio Raposo Ramos. Dos outros
dois policiais não consegui gravar os nomes e eles estavam sem identificação,
porém sei que eles são da viatura 68, e que essa viatura não é a viatura que
faz a ronda daquela parte da cidade (Rua F, loteamento tropical nº 46 Ilhéus
II) e isso foi o próprio delegado quem falou. O sub tenente Agnaldo já na
delegacia continuou a me ameaçar dizendo QUE PODERIA FACILMENTE PLANTAR DROGAS
NAS MINHAS COISAS, mas que dessa vez ele não ia fazer isso mas que eu ficasse
esperta porque ele ia me dar uma cadeia de qualquer jeito. Respondi que não
tinha medo dele e ele disse que eu deveria ter, ou se não levaria mais porrada
na cara, e que ele me conhecia da uesc e que era pra eu ter cuidado por onde eu
ia andar dali pra frente. Como isso aconteceu durante o fim de semana eu não
pude tomar providências imediatas pois os órgãos públicos só funcionam durante
os dias uteis e dessa forma esperei até, segunda-feira 11/09/2017, para começar
os processos pertinentes parar reparação de todos esses absurdos que
aconteceram comigo. Nunca fui tão humilhada em toda a minha vida. Fui pega
totalmente vulnerável dentro do meu quarto, completamente despida e apanhei
muito sem nem ter oferecido nenhum tipo de reação contra os policiais. Não
havia nenhuma policial feminina na operação o que só me deixou ainda mais humilhada
pois tinham 5 homens armados me espancando dentro da casa a qual eu havia
pagado pra estar e eu tinha acabado de chegar de uma viagem de 8 dias fora.
Agora estou sem ter onde morar, passando uns dias de favor na casa de uma tia e
estou machucada e com dores no pescoço e rosto, mas a pior das dores é a
emocional. Uma sensação de impotência total e uma revolta tão absurda quem nem
tenho como descrever. Cada vez que eu tiver que passar por WILZA nos corredores
do LEA da uesc me sentirei ainda mais agredida, porque olhar pra ela me faz
lembrar do marido dela me espancando a troco de nada. Estou tomando todas as
providências legais contra os envolvidos nesse abuso, mas ainda assim nada vai
apagar o horror que foi aquela situação pra mim. Depois de muito relutar
resolvi vir a público com essa história porque por mais constrangedor que tenha
sido pra mim eu acredito que outras pessoas precisam ser alertadas quanto a
mais esse abuso descarado de poder envolvendo policiais militares e porque
preciso muito do apoio de todos para ter forçar pra lutar contra esse tipo de
atrocidade pra que sirva de exemplo e evite que outras pessoas passem pelo
mesmo horror que eu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário