
Um dia após sofremos o último
golpe, nas urnas, pela escolha alienada da “maioria”, como resultado de um
projeto arquitetado, desde que a direita perdeu a eleição em 2014, ou melhor:
para estancar a sangria!, fui à UESC, encontrar com os meus. Lá, depois de nos
abraçarmos e lamentarmos veio-me um momento de extrema clareza. Mas, primeiro,
vou te contar uma historinha. Depois, eu lanço o foguete!
Quando me descobri feminista, ao
pesquisar os grupos de mulheres do eixo Ilhéus-Itabuna, lá por volta de 2015,
foi doloroso e árduo! Porque ao mesmo tempo em que eu descobria as feridas que
o machismo tinha deixado em mim e o quanto o meu universo foi reduzido pelo
patriarcado, eu fazia um caminho inverso no sentido de enxergar meus
privilégios, enquanto mulher branca. Mas, para além do que acontecia aqui
dentro de minha cabeça, tinha um mundo e uma política nacional, que caminhavam
no mesmo sentido que eu, embora não na velocidade que eu ansiava!
Em 2016, quando o golpe veio,
quando #foratemer assumiu, o mundo começou a girar ao contrário. E eu? Eu me
recusei a dar meia volta e acompanhar o mundo. E continuo me recusando! De lá
para cá, foram muitas lutas, as mortes de Marielle Franco e Anderson Gomes, muitas
idas às ruas, muitos cartazes e muitas hashtags,
que foram derrubadas pelo poder instituído!
No último dia 28, se consolidou
da maneira mais tenebrosa o que prevíamos! Mas eu não dei tempo para tristeza,
eu não me permiti ainda elaborar meu luto, porque é mais urgente lutar! No
primeiro instante, declarei-me resistência e seguirei sendo! E no dia seguinte
na UESC, eu tive o tal momento de extrema clareza: constatei que tudo o que
vivenciei no feminismo foi num contexto mais favorável! Nós tínhamos uma
presidenta, nós tínhamos um projeto de governo que lançava olhar sobre as
minorias! Sem sombra de dúvidas, naquele momento, ser feminista era menos
perigoso.
Não tô dizendo que era maravilhoso
o mundo das mulheres nos últimos anos! Longe disso! Mas ao menos nossos nomes
estavam nos planos de governo, pensavam em políticas públicas de enfrentamento
da violência contra a mulher! Estávamos no caminho certo! Mas lá vem a resposta
conservadora! Só que o que eles parecem não saber é que: nascer mulher é nascer
resistência! O contexto sempre nos foi adverso, então, fomos treinadas na
guerra e para a guerra!
Mais do que nós mulheres brancas, as mulheres
negras sempre estiverem num lugar contraditório de subalternização e força!
Usemos, pois, os nossos lugares de potência para plantarmos as sementes da
revolução! Vamos juntas e vamos de mãos dadas! Ninguém larga a mão de ninguém!
Por Elis Matos
Elis Matos é ipiauense, feminista, licenciada em Filosofia (UESC), bacharela em Comunicação Social (UESC), Especialista em Gestão Cultural (UESC), no qual estudou os grupos culturais feministas do sul baiano, e mestranda em Linguagens e Representações (UESC), no qual centraliza sua pesquisa em Estudos de Gênero.
0 Comentários